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Este microbook é uma resenha crítica da obra: Becoming - Michelle Obama.
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 9788547000646
Editora: Objetiva
Michelle cresceu em um espaço de poucos cômodos, com o pai, a mãe e o irmão um ano e pouco mais velho, Craig.
Os Robinson viviam no bairro de South Shore, em Chicago, nos altos da casa de uma tia-avó, que era uma professora de piano exigente, responsável por embalar boa parte da infância de Michelle com suas aulas e alunos barulhentos.
Mas tudo bem, pois a família respirava música. Ela mesma começou as aulas de piano aos quatro anos. Seu avô materno, carinhosamente chamado por Michelle e Craig de Southside, em referência ao lado da cidade em que moravam, tinha auto-falantes espalhados pela casa, inclusive pelo banheiro.
Ele gostava tanto de música quanto não gostava de policiais, dentistas e gente branca. E estimulou os filhos a desenvolverem as mesmas antipatias, os instruindo a não entrar nos bairros “errados” e a evitar a polícia.
Foi ele que deu o primeiro disco de Michelle, Talking Book, de Stevie Wonder.
Ela o idolatrava e, consequentemente, também passou a amar a música.
Aprendia uma canção atrás da outra no piano e, com isso, moldou uma boa relação com sua tia-avó.
Os pais também são figuras que merecem destaque, obviamente, na vida de Michelle.
Seu pai, Fraser, era um apaixonado por esportes televisivos e, quando Craig começou a gostar de basquete, colocava uma moeda em algum canto alto para que o garoto pulasse e a pegasse.
Logo, o irmão se tornou ousado no esporte, cruzando a cidade para jogar com os melhores. Todos passaram a conhecer Craig e seu talento com a cesta.
Fraser tinha um Buick Electra 225 que amava dirigir e o mantinha cuidadosamente impecável para que a família pudesse passear pelo centro de Chicago uma vez ao ano.
Ele tinha trinta e poucos anos quando descobriu a esclerose múltipla e o carro se tornou algo extremamente importante para sua mobilidade.
Na época, não havia muita informação sobre a doença e a família tinha um velho hábito de ignorar as notícias ruins e seguir em frente. Assim foi feito.
A deficiência física deu espaço para a necessidade de Fraser se tornar um porto-seguro em outras questões, então ele virou delegado distrital dos Democratas e sempre tinha tempo para ouvir as pessoas e suas reclamações, garantindo que elas votassem no partido.
Marian, a mãe de Michelle, era uma mulher extremamente criativa e habilidosa. Ela, assim como o esposo, não se graduou e trabalhou como secretária até deixar o ofício para cuidar da casa.
Eles viviam com um orçamento apertado, então ela fazia as próprias unhas, pintava o cabelo, costurava e reaproveitava as roupas.
No Natal, ela até chegou a fazer uma chaminé falsa com papéis de parede improvisados.
A mãe sempre dava conselhos sérios e se mantinha estável para enfrentar a adolescência dos filhos. Uma vez disse que criava adultos e não bebês.
Marian costumava dar diretrizes e não regras.
Pouco mais de uma década antes dos pais de Michelle se mudarem, South Shore era uma bairro 96% branco.
No entanto, na infância dela, o local já contava com famílias de diversas etnias. Um festival de sobrenomes heterogêneos.
Quando ela saiu de lá para a faculdade, South Shore era quase 100% negro. Resultado do êxodo das famílias brancas para o subúrbio em busca de melhores casas, escolas e mais “brancura”.
Michelle e Craig viveram o momento de transição do bairro, cercados por famílias judias, orientais, latinas, brancas e negras.
No segundo ano de colégio, a professora se mostrou completamente incapaz de lidar com a diversidade e rebeldia das crianças. Na verdade, parecia nem gostar delas.
E Michelle reclamou. Reclamou tanto que a mãe foi até a escola e algumas crianças conseguiram mudar de turma e ficar sob os cuidados de uma professora boa e sorridente.
Hoje, Michelle entende que a rebeldia acontecia por conta da desvalorização. Os pequenos estavam apenas tentando sobreviver às circunstâncias ruins.
Falando nisso, vale lembrar de quando Craig ganhou uma bicicleta e foi pedalando rumo ao lago Michigan até ser parado por um policial, que o acusou de roubá-la.
O homem levou uma grande bronca da mãe dos dois e eles, mesmo jovens, entenderam que o mundo era injusto e que a cor da pele os tornava vulnerável.
Frequentemente, o pai os levava de carro até um lugar chamado Pill Hill, onde moravam médicos afro-americanos bem-sucedidos.
Os passeios eram, na verdade, um exercício de ambição para os filhos, pois os pais acreditavam que filhos poderiam chegar onde eles nunca chegaram.
Craig, como o esperado, se tornou um dos melhores jogadores da cidade e foi altamente cobiçado por escolas de toda parte.
Após o Ensino Médio, ele foi para Princeton, onde se tornou titular no time da universidade, enchendo a família de orgulho.
Foi a primeira vez que Michelle saiu debaixo das asas protetoras do irmão e enfrentou os desafios de uma nova escola sozinha.
Não foi tão difícil quanto parecia. Ela fez amizade com uma garota chamada Santita Jackson, filha de Jesse Jackson, um dos primeiros negros a tentar, com seriedade, a presidência dos Estados Unidos.
Além dela, outras pessoas tornaram o período mais fácil.
Os alunos da nova escola, Whitney M. Young, eram ambiciosos e ela se tornou também.
Sempre tinha boas notas, entrou em uma organização que reconhecia os melhores estudantes de Ensino Médio dos Estados Unidos e, após visitar o irmão na faculdade, passou a almejar Princeton.
Entretanto, um episódio a fez esmaecer.
No início do último ano na escola, teve a primeira entrevista obrigatória com uma orientadora.
A experiência não poderia ter sido pior. “Não sei bem se você é do tipo de Princeton” foi o que ouviu da mulher.
Ela sentia que a orientadora queria plantar o fracasso, sugerindo que Michelle baixasse as expectativas e fosse de encontro com tudo que seus pais haviam ensinado.
Ignorá-la foi fácil.
Michelle assumiu o desafio e oito meses depois, quando chegou a carta de aceitação, mostrou que era muito bem “do tipo de Princeton”.
Apesar disso, Princeton era majoritariamente branca e masculina. Calouros negros eram apenas 9% em relação ao total. Era a primeira vez que Michelle estava inserida em uma comunidade predominantemente branca.
Eles eram descuidados com as próprias coisas, parecendo não se preocupar com furtos, e pareciam ter uma fé infinita no mundo, certos de que seriam bem-sucedidos. Ela precisaria se acostumar com tudo isso.
Diferente de toda experiência de moradia e estudo que teve antes, em Princeton ela se sentia protegida e servida. Lá, Michelle não precisava fazer mais nada a não ser estudar.
Nas horas vagas, ela se cercava de outros alunos negros e latinos. Era como viver em família.
Provavelmente, a reitoria não aprovava esse comportamento, preferindo grupos mais heterogêneos. Entretanto, seria pedir demais. Os brancos eram a maioria e o fardo da assimilação ainda recaia nos ombros das minorias.
Era um alívio encontrar o grupo no final de um dia cansativo, no qual ela tinha que se munir de doses extras de autoconfiança e se provar frequentemente. Afinal, era difícil ser a única negra da turma.
No primeiro ano, sua colega de quarto se mudou para um conjugado. Na época, Michelle não fazia ideia do porquê, mas depois descobriu que a mãe da menina ficou horrorizada da filha estar dividindo quarto com uma negra e solicitou a mudança imediata.
Michelle também tentava não se intimidar com o falatório de alunos homens e brancos na sala de aula.
Ela descobriu que eles não eram mais inteligentes. Só falavam e debatiam mais porque foram estimulados a isso, preservados na ancestralidade de superioridade e no fato de que nunca lhes disseram para fazer ao contrário.
Tudo isso a estimulava a ser cada dia melhor. Se no Ensino Médio, Michelle representava seu bairro, em Princeton, representava sua cor.
Mas a universidade não foi só uma luta por protagonismo e representatividade. Convivendo com sua nova colega de quarto, extremamente bagunceira e vivida, que a deixava à beira de um ataque de nervos, ela descobriu que há outras formas de ser.
Graças a essa pessoa, Michelle consegue conviver até hoje com um homem que não vê importância em dobrar as roupas e guarda suas coisas de qualquer jeito.
Em seguida, Michelle resolveu ser advogada e foi parar na escola de Direito de Harvard.
Sua carreira foi só ascensão.
Ela conseguiu um emprego em um sofisticado escritório em Chicago e morava sozinha na casa que havia ocupado com os pais, enquanto eles foram para o andar de baixo, onde antes morava sua tia-avó pianista.
Aos 25, ela tinha uma assistente, ganhava mais que seus pais, vestia um terninho Armani, havia comprado um Saab e era assinante de um clube de vinhos.
Ele chegou atrasado no seu primeiro dia de escritório e Michelle sempre odiou atrasos.
Mesmo antes de botar os pés na firma, Barack havia causado um rebuliço na empresa, pois foi contratado após terminar o primeiro ano da faculdade e não o segundo, como de costume.
Todos diziam que ele era excepcional. Algumas mulheres diziam que ele era uma “gracinha”.
Michelle se mantia cética diante a tudo isso. Para ela, qualquer homem negro de terno deixava as pessoas malucas.
Ela chegou a ver a foto dele: um cara com um sorriso largo e aparência meio nerd. Também sabia que ele nasceu no Havaí. Só a voz dele havia chamado sua atenção.
Michelle deveria exercer o papel de mentora de Barack no escritório. Apesar de ser três anos mais velho que ela, o homem nerd trabalhou vários anos antes da faculdade, por isso estava em um cargo abaixo.
Enquanto a carreira de Michelle foi linear e próspera, a de Barack foi um zigue-zague. Ele passou por diversos lugares e teve muitas experiências até chegar ali.
Filho de um pai queniano negro e uma mãe branca do Kansas, ele nasceu e cresceu em Honolulu, mas viveu durante quatro anos da infância na Indonésia. Era uma mistura de tudo.
Depois do Ensino Médio, estudou na Occidental College e na Columbia, onde devorou livros de literatura e filosofia, pouco aproveitando a juventude nos anos 80.
Durante um almoço profissional, Michelle descobriu tudo isso e mais.
Na adolescência, ele fumou maconha em Oahu. Depois trabalhou em uma ONG como organizador comunitário, ganhando muito pouco, diga-se de passagem.
Por fim, entrou em uma faculdade de direito porque acreditava que mudanças sociais significativas exigiam, além do trabalho de pessoas no local, políticas e ações governamentais mais sólidas.
Em pouco tempo, ela passou a admirá-lo, assim como a maioria do escritório.
Mas foi o tempo, as conversas intermináveis e a franqueza costumeira que fizeram ela olhá-lo com outros olhos, no entanto, mostrava resistência a si mesma.
Não queria tirar o foco do trabalho com namoros, mesmo com a sutil insistência dele para que eles saíssem.
Michelle só deixou o escudo de lado após um evento de confraternização do escritório, onde ela o viu jogar basquete, eles saíram para tomar sorvete juntos e, gentilmente, ele perguntou se poderia beijá-la.
Foi aí que ela engatou em um namoro com alguém que gastava todo o dinheiro em livros e passava horas sem dormir pensando na desigualdade de renda do país, diferente das maioria das pessoas que só pensam nelas.
“Não se preocupe. Você é capaz. A gente dá um jeito”. Era o que Barack sempre dizia, incentivando Michelle a alcançar seus sonhos.
Eles estavam juntos há seis anos, ele dava aulas, fazia trabalho voluntário, publicava livros e pensava em se candidatar politicamente, enquanto ela se dedicava completamente a ONG Publica Allies.
Ambos queriam ter filhos, mas tentavam sem sucesso.
Foi nesse momento, de exames, concessões etc. que Michelle viu que o sacrifício maior seria sempre da mulher.
Barack continuaria com suas atividades diárias e não faria exames de sangue. Ele só tinha que estar presente.
Malia Ann Obama nasceu em 4 de julho de 1998.
A vida de mãe e profissional não foi fácil. Ela tinha que trabalhar meio-período, ganhando meio-salário e fazendo exatamente tudo que fazia antes.
Se sentia culpada quando trabalhava em casa e se sentia mal quando pensava na filha durante o trabalho.
Mas tudo valia a pena e isso foi reforçado com a chegada da segunda filha do casal, Natasha Obama, em 10 de junho de 2001.
Michelle se dedicou com afinco à maternidade. Barack era um bom pai, mas sua vida política estava em ascensão e sua ausência era inerente.
Ele arrebentava nos discursos e foi eleito senador com mais de 70% dos votos.
A candidatura à presidência foi uma consequência que não pode ser driblada.
O momento da apuração de votos, em 2004, quando ele concorria ao cargo mais importante do mundo com McCain foi cheio de ansiedade.
A chegada da vitória foi um grande alívio, repleta de felicidade.
Barack foi o primeiro presidente negro dos Estados Unidos e Michelle sua primeira-dama.
No entanto, não existia um manual de primeira-dama.
Hillary Clinton, por exemplo, foi ridicularizada ao assumir um cargo administrativo durante o mandato do marido. E ela era branca.
Michelle era a única primeira-dama negra do país e não iria ocupar uma posição passiva na equipe do marido.
Neste microbook, Michelle Obama, então ex-primeira dama dos Estados Unidos conta sua história desde a infância, no “gueto” de Chicago, passando pelas dificuldades e ascensão profissional e pessoal, até chegar à Casa Branca.
Trata-se de uma autobiografia franca e bem humorada, que revela os bastidores de um dos acontecimentos mais importantes já vividos: a posse de um presidente negro.
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